terça-feira, 29 de setembro de 2009

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE LIVROS INFANTIS

   A FUNDAÇÃO EDUCAR DPASCHOAL distribui gratuitamente livros infantis desde 1999 e quer que os mesmos sejam utilizados para incentivar a leitura e transmitir valores cidadãos. Normalmente, os livros são doados para escolas públicas, organizações sociais e bibliotecas.
   Para recebê-los é necessário preencher um
formulário . O pedido será analisado e, depois de aprovado, será enviado a uma loja DPaschoal ou central de distribuição da DPK indicada por você.

   Para fazer o pedido:
   Tenha em mãos o seu CPF, assim como os dados da instituição (CNPJ, Inscrição Estadual, endereço e telefone). Você também deverá informar detalhadamente as atividades que realizará com base nos livros. 
   Os dados deverão ser preenchidos atentamente, pois serão impressos na nota fiscal de doação.
   Um próximo pedido poderá ser feito após 3 (três) meses, a partir da data de solicitação.

Contrapartida:
   Após a realização das atividades, será necessário enviar materiais que comprovem a utilização dos livros recebidos. O material enviado poderá ser utilizado em nossas prestações de contas e para a divulgação do projeto. O não envio destes documentos impedirá futuras solicitações.

  Quando estiver com todas as informações, clique aqui e preencha o formulário para enviar eletronicamente.


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Nova Escola - Edição Especial: MATEMÁTICA

ESTÁ DISPONIVEL NAS BANCAS UMA EDIÇÃO ESPECIAL DA REVISTA NOVA ESCOLA SOBRE MATEMÁTICA. A PUBLICAÇÃO É RESULTADO DE UM PRJETO DESENVOLVIDO PELA FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA EM ESCOLAS DA GRANDE SÃO PAULO.

Clique aqui para outras informações.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Calculadora

    Esta é uma atividade que pode ser realizada diversas vezes. Para que ela tenha sucesso, é importante que as crianças já estejam familiarizadas com o uso da calculadora. Propomos que desde o início do ano este instrumento faça parte do material das crianças, para que seja utilizado sistematicamente, para conferir resultados, propor e decifrar desafios etc..

Estando as crianças com as calculadoras em mãos, o professor “dita” um número inicial (80, por exemplo), que deve ser “digitado” por todos. Em seguida, o professor desafia os alunos a, com apenas uma operação, transformar este número em outro:

- Como vocês podem transformar o 80 em 84, fazendo apenas uma operação? (fazendo + 4)

- Como vocês podem transformar o 80 em 4, fazendo apenas uma operação? (fazendo - 80)

- Como vocês podem transformar o 80 em 180, fazendo apenas uma operação? (fazendo + 100)

    Depois de ter feito esta atividade diversas vezes com as crianças, o professor pode adaptá-la em uma lição impressa:

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Que operação preciso fazer para transformar o
número que aparece no visor em:

800 __________________________________________

80 __________________________________________

85 __________________________________________

8  __________________________________________

Dica: deixe o aluno pensar em sua hipótese para resolver a atividade proposta e depois solicite que socializem com os colegas.

sábado, 26 de setembro de 2009

Reescrita Coletiva

Os livros têm a ver com a condição humana

       Esta palestra de Moacyr Scliar foi proferida no Conselho de Economia, Sociologia e Política da Federação do Comércio, Sesc e Senac de São Paulo, no dia 18 de junho de 2009.

   Num primeiro momento, você pensa: O que um médico pode entender sobre educação?

Pois então…. muita mais do que você possa imaginar.

 

Os livros têm a ver com a condição humana

MOACYR SCLIAR

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Moacyr Scliar / Foto: Francesco Barale

                                          Moacyr Scliar, natural de Porto Alegre, divide sua vida profissional entre a medicina e a literatura. Como médico, é especialista em saúde pública e doutor em ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Foi professor visitante na Brown University e na University of Texas-Austin, nos Estados Unidos.Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), é autor de 80 obras de vários gêneros, entre romances e livros de contos, ensaios, crônicas e ficção infanto-juvenil, com edições em pelo menos 20 países.
É colunista dos jornais "Zero Hora", de Porto Alegre, "Folha de S. Paulo" e "Correio Braziliense". Recebeu vários prêmios, entre os quais o Prêmio José Lins do Rego, da ABL, o da Academia Mineira de Letras, o Prêmio Jabuti, o Prêmio Casa de las Américas, o Prêmio Guimarães Rosa e o Prêmio Mário Quintana.


    Em 1993, o chefe do Departamento de Estudos Literários da Brown University, uma pessoa que já conhecia, me convidou por telefone a dar um curso de seis meses sobre literatura para os alunos da universidade. Fiquei um tanto intimidado e lhe disse que era escritor, não professor de literatura, e não me sentia em condições de dar esse curso para estudantes de letras. Ele: "Mas quem falou em estudantes de letras? São alunos de medicina". Mais: disse que o curso não seria o único e haveria outras pessoas lecionando para a mesma área. Quando cheguei lá, descobri que a área se chamava humanidades médicas e envolvia várias disciplinas, como história da medicina, antropologia, ética, comunicação, e que minha disciplina seria literatura e medicina.

   Foi uma experiência extremamente interessante e comecei a me dar conta de que não se tratava, vamos dizer, de uma diversão intelectual. Os americanos são extremamente pragmáticos e aquilo tinha uma razão muito objetiva. Era a crise na medicina americana. Ela vive várias crises e atualmente estão tendo uma discussão ampla sobre a reformulação do sistema de assistência médica. É a medicina mais cara do mundo, é claro que também extremamente eficiente, mas deixa a desejar sob muitos aspectos. Um deles é que cerca de 40 milhões de americanos não têm nenhuma cobertura assistencial, porque lá isso depende em grande parte de seguros de assistência médica.

   Justamente quando cheguei lá, o presidente Bill Clinton ia tomar posse e uma das coisas que propunha fazer era reformular a assistência médica do país. A pessoa encarregada disso era Hillary Clinton e o local onde anunciou os planos foi a Brown University. Esta foi escolhida porque vários dos assessores de Hillary eram dessa universidade, mas as medidas anunciadas nunca saíram do papel. Era um plano extremamente ambicioso, porém muito complicado e por isso não decolou. O problema administrativo continuou, mas havia um outro, e este os levou a mudar o currículo médico. Era a questão do mau relacionamento entre médicos e pacientes nos Estados Unidos. O número de ações movidas contra médicos estava aumentando exponencialmente e continua em crescimento, obrigando os profissionais a fazer seguro.

   Entre as várias pessoas que conheci lá havia um médico que foi obrigado a fechar seu consultório, porque não tinha como pagar o seguro contra processos. Simplesmente encerrou a prática privada e foi trabalhar como empregado numa policlínica, pois a empresa pagava seu seguro. A situação era muito preocupante e uma das coisas que eles identificaram como causa disso foi que, em função do desenvolvimento tecnológico da medicina, a relação médico-paciente havia mudado, e não para melhor. O que acontecia era uma consulta muito sumária, em que o médico perguntava algumas coisas e solicitava uma bateria de exames, seguidos de uma série de procedimentos. Os pacientes se sentiam mal atendidos com isso. E quando entravam na Justiça, na verdade não estavam se queixando de erros médicos, mas de um problema psicológico.

    A discussão dessa realidade fez com que chegassem à conclusão de que deveriam mudar a formação profissional, o ensino. Introduziram então esse conceito de humanidades médicas. Devo dizer que até hoje isso continua sendo uma tentativa, mas não ocorreu a eles outra coisa. Em alguns casos, o fundamento é evidente quando falam em comunicação. É óbvio, porque há médicos que não sabem falar com o paciente.

   Quando comecei a trabalhar em saúde pública, meu primeiro consultório foi num posto de saúde nas vizinhanças de Porto Alegre. Eu conversava com as pessoas e explicava certas coisas, por exemplo, como tratar uma diarréia infantil. Nunca tinha me ocorrido indagar se elas compreendiam o que eu estava dizendo, mas um dia perguntei a uma mulher: "A senhora entendeu o que tem de fazer com sua filha?" Ela disse: "Entendi". Retruquei: "Então me diga com suas palavras o que a senhora entendeu". Ela começou a chorar, porque na verdade não tinha entendido nada, mas sentia vergonha de dizer. A gente se dá conta dessas coisas dolorosamente, ao longo de muitos anos.

   Esse problema já tinha sido identificado numa conferência que ficou famosa, proferida em 1959 pelo físico e escritor Charles Percy Snow. Era uma aula inaugural e se tornou conhecida como "As Duas Culturas". Ficou tão famosa que foi transformada em livro que circula por aí, as edições em inglês são incontáveis. Este ano faz exatamente 50 anos que a palestra foi proferida e continua na ordem do dia. Percy Snow levanta o conceito das duas culturas, que a rigor não é totalmente novo, sabemos disso, e que ele resume neste trecho: "Intelectuais e literatos de um lado, cientistas de outro. Entre os dois lados, um abismo de mútua incompreensão e às vezes até de hostilidade. Cada lado tem uma imagem distorcida do outro. Os não cientistas tendem a pensar nos cientistas como arrogantes, otimistas ingênuos, ignorantes da condição humana. Os cientistas acham que escritores e intelectuais não têm nenhuma visão do futuro, que não estão preocupados com os seres humanos e que restringem arte e pensamento apenas a um momento existencial". Ele realmente descreveu, de forma bem sintética, esse abismo, essa diferença entre duas maneiras de sentir, que acabei experimentando na própria carne, por assim dizer.

Fonte de informação

Sou escritor, escrevo desde criança, nem podia ser outra coisa porque, menino do bairro do Bonfim em Porto Alegre, sou filho de um pai imigrante que era um grande contador de histórias. Era desses narradores que conseguem fascinar as pessoas contando histórias de imigrantes, de como era a Rússia quando vivia lá, como foi a viagem, a descoberta do Rio Grande do Sul, para onde veio para um projeto de colonização agrícola. E de uma mãe também imigrante, extremamente dedicada e culta, ao contrário de meu pai, que não cursou colégio. Ela era professora, adorava literatura e deu para o filho o nome de um personagem de José de Alencar. A crença que tinham no livro era uma coisa comovente. O livro não era só uma fonte de informação ou uma maneira de conhecer literatura. Era a porta de entrada para um mundo melhor, porque éramos pobres. Meu pai era marceneiro, minha mãe ganhava pouco como professora, e o que queria dizer com cada livro que ela me dava (e me deu muitos) era: "Nossa vida é precária, mas a tua vai ser muito melhor, se entrares no mundo da cultura, da informação".

   Então muito cedo eu escrevia minhas historinhas e muito cedo pensava em medicina. Tornei-me escritor porque gostava de escrever e me tornei médico (isso concluí depois de pensar muitos anos) porque tinha medo de doença. Não medo de ficar doente, não sou hipocondríaco, mas quando meus pais ficavam doentes eu entrava em pânico. O temor de que alguma coisa acontecesse com eles era de tal ordem que eu tinha uma curiosidade anormal em relação à doença. Perto de casa havia um hospital famoso, o Pronto-Socorro de Porto Alegre, e eu ficava espiando os médicos pela porta. Fiz medicina, trabalhei um tempo como clínico e depois fui para a saúde pública, em grande parte motivado pelos impulsos de minha geração, que queria mudar o país e o mundo. Não conseguimos, evidentemente, mas saúde pública, para quem fazia medicina, era uma forma de chegar a isso. A ideia era levar os benefícios da medicina ao povo brasileiro.

   O problema da comunicação em saúde deriva em primeiro lugar da incompreensão por parte do médico em relação às palavras utilizadas pelo paciente para expressar a dor, o sofrimento, o significado que a doença tem para ele. Não se envolver parece ser uma palavra de ordem, primeiro para não perturbar o raciocínio. A ideia é esta: o médico tem de ser uma pessoa isenta, não pode estar emocionalmente comprometido para não perturbar a capacidade de julgamento. Não pode, por exemplo, atender um parente, mas isso significa um distanciamento às vezes excessivo.        Existe um trabalho que mostra que 50% dos pacientes que consultam um clínico geral nos Estados Unidos descrevem uma série de sintomas que o médico simplesmente ignora. Isso acontece porque seu raciocínio está dirigido para a elaboração do diagnóstico e ele automaticamente vai descartando o que considera colateral na narrativa do paciente. O paciente se dá conta de que o médico não presta atenção no que ele diz ou que não o ouve. Às vezes ele não presta atenção porque está anotando ou verificando a tela do computador em vez de olhar para o paciente.

   Os psicanalistas descobriram isso muito cedo, não os de divã, mas os que fazem psicoterapia, e aprenderam que é preciso ficar olhando para o paciente enquanto este fala. Por outro lado, os médicos também têm dificuldade de se comunicar com o paciente. Quando o futuro médico entra na faculdade de medicina, troca sua linguagem e começa a falar "mediquês". É um processo absolutamente imperceptível. Esquece o vocabulário "vulgar" e passa a usar palavras técnicas. De repente está dizendo ao paciente: "O senhor tem uma flebite". Será que ele sabe o que é flebite? Hoje em dia as pessoas de classe média estão bem mais informadas, graças à internet, mas os mais pobres continuam sem esse conhecimento.

   Existe uma dificuldade para o paciente aderir ao tratamento. Quais são as soluções para isso? Uma delas é abordar o paciente e não a doença como centro de estudos. Eu ainda era estudante de medicina e meus professores diziam: "Não existem doenças, existem doentes". Por outro lado, há a questão da empatia, participar das emoções do paciente. Não se trata de se deixar contaminar pela sua emoção, mas de entendê-la e analisá-la de forma serena e tranquila.

Formação continuada

   Um segundo item, que tem a ver com o convite da Brown, é a nova abordagem da educação do profissional de saúde, não só do médico. Inclui a formação continuada, com essas pessoas analisando constantemente seu próprio desempenho, conhecendo suas falhas, erros e as atitudes que podem melhorar. Em terceiro lugar, o exercício humanista da profissão. Para isso é necessário ter informação e conhecimento, altruísmo e solidariedade, profundo respeito pelas pessoas e capacidade de comunicação interpessoal. O objetivo é ver a pessoa como um todo. Em inglês há dois termos para doença, um é disease, que é a doença propriamente dita, e outro é illness, que é a condição de estar doente, é como a pessoa se sente, como vive sua doença. A tuberculose, por exemplo, é uma doença (disease), de uma pessoa infectada por um bacilo. Illness é como essa pessoa vive sua tuberculose. Essa diferença é muito importante. Um grande médico americano do século 19 dizia: mais importante do que aquilo que o médico faz é o que o paciente pensa que o médico faz, ou seja, como o paciente vê a ação do médico. Pode ser um argumento subjetivo, aparentemente pouco científico, mas é o que acaba regendo a relação médico-paciente que pretendemos humanizar.

   A questão literatura e medicina vem ao encontro de outra conjuntura que faz parte de nossa cultura, que é a maneira como encaramos a literatura. Acaba de sair um livro do filósofo búlgaro Tzvetan Todorov, atualmente residente em Paris, que discorre sobre a crise nessa área. O que está acontecendo com o ensino da literatura é um pouco o que acontece com a medicina. A literatura hoje em dia nas escolas e nas universidades é uma disciplina curricular, cai em vestibular. Em Porto Alegre, agora menos, porque o tempo passou, mas quando meus amigos tinham filhos vestibulandos era certo que na véspera do exame um deles me telefonava: "Tio, amanhã tu vai cair no vestibular. Tio, me resume aí a tua vida e a tua obra. Caso tu caia no vestibular, eu preciso saber alguma coisa sobre ti". É o que vai acontecer no juízo final, vamos ser interpelados a resumir a vida e a obra ligeirinho, porque a fila é grande. Então a literatura se transformou numa coisa classificatória, é preciso saber se o autor é de tal ou qual escola, seu estilo, como se desconstrói, como se estrutura etc. Pergunta-se sobre obras literárias como se pergunta quais são os afluentes do Amazonas, a pessoa tem de memorizar. Mas que utilidade tem saber quais são os afluentes do Amazonas se ela não vai para o Amazonas? Se for, ela estuda isso. Mas a literatura ficou assim mesmo, uma coisa objetiva, seca. Os alunos estudam através de resumos, os trabalhos que eles têm de fazer já estão prontos na internet, é só buscar.

O exemplo de Tolstói

   Então há uma crise dentro da literatura. Temos de um lado a crise de desumanização da medicina, de outro lado a crise da literatura e de repente estou lá na universidade Brown tentando, junto com um grupo de alunos, superar essas duas crises. Fazer com que eles se deem conta de que a relação médico-paciente é entre seres humanos e conseguir isso através de obras literárias. Dá para fazer, porque existem obras literárias que são absolutamente decisivas não só na compreensão da existência humana como também na compreensão da relação médico-paciente.

Vou dar um exemplo, que considero definitivo. É uma novela de Liev Tolstói, chamada A Morte de Ivan Ilitch. É um texto muito curto, o que é muito bom, livro não precisa ser longo. Foi escrito por um homem conhecido como humanista, uma pessoa voltada para a condição humana. É considerada por muitos críticos como a melhor novela já escrita. Quando a lemos, percebemos que, se não é a melhor, é forte candidata a ser a melhor, se é que existe tal classificação. A Morte de Ivan Ilitch fala de um homem que vai morrer, o que já sabemos pelo título. Quem é ele? É um advogado conhecido, extremamente arrogante e cônscio de sua importância, um profissional que brilha nos tribunais. Um dia fica doente. Tolstói não diagnostica a doença e isso não tem importância, mas é certo que vai matá-lo. À medida que se vai lendo, percebemos muitas coisas que são importantes para a compreensão do fenômeno da doença e da condição humana. Primeiro, a reação do próprio Ivan Ilitch é curiosa. Ele, como acontece com as pessoas que ficam gravemente doentes, precisa encontrar uma causa, um bode expiatório, algo em que possa botar a culpa de seu mal. E a culpa é que ele bateu em uma mesa com o abdômen, e a partir daí começou a ter problemas e desenvolveu uma doença.

   Quem é médico sabe que frequentemente as pessoas atribuem seus males a algo que aos olhos do profissional é absurdo, mas faz sentido dentro da conjuntura emocional delas. Lembro-me de que um dos primeiros pacientes que atendi, ainda como estudante de medicina em Porto Alegre, era um homem com insuficiência cardíaca, completamente inchado, que me repetia constantemente: "Doutor, eu estava bem, mas um dia fui comer um ovo duro e fiquei assim". Ele odiava esse ovo duro. Esse ovo duro para ele não era um ovo, era outra coisa, outra história que eu, por ingenuidade, não perguntei, mas devia ter perguntado. Eu teria descoberto que comer esse ovo duro para ele talvez tenha sido uma transgressão, uma coisa que ele vacilou em fazer, que não devia fazer. Fez e o resultado foi esse castigo, a insuficiência cardíaca brutal. Mas eu já estava pensando como médico, acreditando que isso era bobagem, uma besteira, não tinha nada a ver. E não tinha mesmo, objetivamente não faria muita diferença para ele como cardíaco, mas muita diferença para ele como pessoa. Só que eu via nele um cardíaco, não uma pessoa.

   Depois Ivan Ilitch começa a consultar médicos e aí vem o drama, pois os médicos não dão a mínima para ele. Não querem nem que fale e de repente ele se sente como um réu no tribunal, aquelas pessoas não são médicos, são juízes, não estão dando um diagnóstico, mas um veredicto. Um dos médicos diz a ele: "Não precisa falar, vou dizer o que você tem". A desgraça continua porque a família também não entende, e ele não recebe o apoio que esperava. No fim, a única pessoa que o ajuda é um empregado, um camponês russo ignorante, mas que tem uma qualidade absolutamente fundamental, a compaixão. Tem pena do patrão, ajuda-o e faz o papel do médico.

Condição humana

   Ler uma novela dessas é absolutamente importante, e eu arriscaria dizer que o estudante de medicina aprende tanto num texto desses, quando o discute convenientemente, quanto nos manuais técnicos que consulta. Há mais exemplos. Para ficar em escritores brasileiros, meu conterrâneo Érico Veríssimo tem um livro chamado Olhai os Lírios do Campo. Não é de suas obras-primas, mas é um livro muito sensível, porque o autor tinha uma vocação médica mal contida. Trabalhou muito tempo em farmácia e conhecia doentes. Médicos aparecem constantemente em sua obra. Tenda dos Milagres, de Jorge Amado, é uma obra na qual se discute a arrogância médica, que não era infrequente na Bahia no começo do século 20, como não era em outros lugares. A Montanha Mágica, de Thomas Mann, tem aquele diálogo famoso, um médico que conversa com seus pacientes no sanatório de tuberculose. Lá pelas tantas ele diz: "A doença é o resultado de uma paixão que não se concretizou. A doença é a paixão transformada". Isso não é verdade no caso da tuberculose, que é uma doença microbiana, ainda que os fatores psicológicos possam ter importância, mas explica muitas coisas. Realmente tudo aquilo que numa época se chamou de medicina psicossomática resulta das paixões transformadas em doença.

Isso mostra como numa área que é hoje muito tecnológica, a medicina, pode-se superar o abismo entre as duas culturas, unindo-as. Não duvido que isso possa ser feito em todas as áreas. Estamos no momento discutindo o papel que a literatura vai ter nas escolas e é muito importante que pais e educadores se deem conta de que o livro medeia uma relação humana. Quem recomenda um livro, quem lê para uma criança, quem discute um livro com uma criança está fazendo, ao fim e ao cabo, uma verdadeira psicoterapia. Literatura é mais do que o estilo, é mais do que a escola literária, é mais do que a denúncia. A grande literatura tem a ver com a condição humana e nesse sentido ela tem um papel cada vez maior no mundo.

Debate

SAMUEL PFROMM NETTO – Ainda há pouco o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou um artigo instigante, e ao mesmo tempo desalentador, a respeito da edição de livros de ficção de autores brasileiros. Nessa crítica falou-se da proliferação de traduções de best-sellers, a maioria de língua inglesa, boa parte dos quais de valor literário reduzido ou absolutamente nulo. A esse quadro acrescento a ausência em nossas livrarias dos livros dos mais notáveis escritores patrícios do passado. É inútil buscar, por exemplo, a não ser nos sebos, as obras extraordinárias de José Américo, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Dalcídio Jurandir, Valdomiro Silveira ou Érico Veríssimo, para citar apenas meia dúzia das muitas dezenas de notáveis escritores do passado. A exceção corre por conta deste ou daquele autor exigido nos vestibulares como leitura obrigatória. Isso contrasta vivamente com o que se observa em outros países, particularmente no que respeita a Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão. A esse processo de desnacionalização da literatura entre nós acrescento o desaparecimento dos autores portugueses, que num passado não muito distante nos ajudavam a falar, a escrever e a pensar em nosso idioma comum. Estaríamos perante uma hecatombe literária no Brasil?

MOACYR SCLIAR – Não estamos diante de uma hecatombe, acho que não. Realmente é uma situação que pode não ser justificável, mas é explicável. Em primeiro lugar, a questão dos best-sellers. Vivemos num mundo globalizado, lemos o que todo o mundo lê, assim como vemos os filmes que todos veem e ouvimos as notícias que todos ouvem. Não temos, por exemplo, como escapar da indústria cinematográfica americana, primeiro porque é extremamente eficiente, sabe produzir e distribuir filmes interessantes, sabe apelar. Dizem que O Código Da Vinci é um filme horrível, mas todos vão ver, não há como não ver. Todo mundo fala de Harry Potter, e me surpreende que os jovens leiam livros de 600 páginas. Isso de um lado. De outro, temos a questão dos clássicos. Vou dar uma de menino travesso. Com o centenário de Euclides da Cunha, em agosto de 2009, todos falam de Os Sertões. Reli esse livro há dias e me chamou a atenção a última frase, que diz mais ou menos o seguinte: "Não existe nenhum Maudsley que nos explique, enfim, os conflitos brasileiros". Não sei se alguém sabe quem foi Maudsley. Eu teria obrigação de saber, porque ele era médico, um psiquiatra inglês extremamente popular na época de Euclides da Cunha. Henry Maudsley usava a psiquiatria para entender os problemas da cultura. Mas isso no século 19. Hoje em dia ninguém mais sabe quem é ele, é preciso entrar na internet para descobrir. O resultado é que terminamos de ler Os Sertões nos deparando com uma frase que não entendemos. Imaginem a sensação do leitor quando o livro que está lendo termina com uma frase incompreensível, que às vezes ele nem sabe como pesquisar. Isso sem falar do livro, que é importantíssimo, transcendental, mas ilegível. As novas gerações não conseguem ler Os Sertões porque aquele vocabulário e aquela forma de redigir não são os que elas usam.
No colégio que frequentei em Porto Alegre, tínhamos um bom professor de literatura, mas havia outros muito ruins que insistiam nos clássicos. Só que éramos obrigados a ler os clássicos portugueses, porque caíam no exame, e além disso havia um castigo nesse colégio, em que os alunos travessos, caso deste que vos fala, tinham de ficar depois da aula e copiar 20 estrofes de Os Lusíadas. Copiei tantas vezes Os Lusíadas que duvido que algum de vocês conheça a obra melhor do que eu, pelo menos as 20 primeiras estrofes. Mais tarde descobri que Jorge Amado também copiou Os Lusíadas como castigo, era uma praga no Brasil transformar em castigo uma obra literária fundamental da cultura lusófona.

ZEVI GHIVELDER – Mas gerou grandes escritores.

MOACYR SCLIAR – Isso não gerou um escritor, gerou um grande revoltado. Estamos diante de uma situação que tem de ser enfrentada, mas com habilidade. A palavra-chave para apresentar a literatura, tanto na relação entre pais e filhos como entre professores e alunos, é interação. Aquilo não pode ser apresentado como uma coisa sagrada, intocável, venerável. Eles têm de mexer naquilo, têm de pegar um Dom Casmurro e fazer uma adaptação para o teatro, fazer a versão deles dessa obra, mexer no texto, familiarizar-se, entender quem foi Machado de Assis, não como escritor venerável, mas como um mulatinho do Rio de Janeiro, uma pessoa doente, epilética, gaga, que conseguiu dar a volta por cima e terminou morto não numa sarjeta, mas como o maior escritor brasileiro. Essas coisas são importantes. Não dá para enfiar goela abaixo, as pessoas têm de ser convidadas a entrar na literatura, seduzidas, e isso não se faz, infelizmente, com os clássicos. Há exceções, é claro; Machado de Assis é um escritor que se lê perfeitamente hoje, mas José de Alencar já é um problema.
Não estamos aqui para discutir o ensino de literatura, mas isso é sintoma de uma realidade brasileira, da cisão que existe entre a cultura erudita e a ralé que não consegue chegar aos livros. Como membro da Academia Brasileira de Letras, quero dizer que é uma instituição que tem de mudar, tem de deixar de ser o que é. Nós, os acadêmicos, temos de fazer um esforço para acabar com o elitismo que transforma os membros da academia em imortais, diferentes do comum dos homens.

   PFROMM NETTO – Lembro que, embora suas observações sejam judiciosas, há um fato que não é controverso. Os ingleses continuam lendo Shakespeare e Thomas Hardy, os franceses Balzac e Flaubert. Há novas edições de Flaubert, lindas, em todas as livrarias da França. Os alemães leem Goethe, os italianos Dante. E nosso companheiro Ernani Donato vai lançar, felizmente, a reedição de sua primorosa tradução de A Divina Comédia.

  MOACYR SCLIAR – Faço uma pergunta a Samuel: que autor os franceses leem mais, Balzac ou Paulo Coelho?

  PFROMM NETTO – A questão não é o que leem mais, mas o que há nas livrarias.

MOACYR SCLIAR – E o que tem mais nas livrarias?

PFROMM NETTO – Paulo Coelho está nas livrarias, mas Flaubert também está e as pessoas compram.

MOACYR SCLIAR – Aqui também temos Machado de Assis. Paulo Coelho é uma pessoa com quem me dou muito bem, acho que desempenha uma função importante, que é a de introduzir as pessoas na literatura. Ele faz isso muito melhor quando é traduzido, por razões óbvias. Agora, condenar Paulo Coelho não adianta. Em cada palestra que faço, seja em colégio ou universidade, esse tema vem à baila; sempre alguém pergunta por que Paulo Coelho está na Academia e invariavelmente aparece um rapaz que diz: "Olha aqui, eu só leio Paulo Coelho. E daí, vai encarar?"

JOSUÉ MUSSALÉM – Qual é o papel do livro nesta época de internet? Acredito que a obra impressa ainda é muito importante. Editoras europeias, como a Bertrand, de Lisboa, a Casa del Libro, de Madri, e a Gallimard, de Paris, que inclusive reeditou Gilberto Freyre, estão crescendo. No Brasil temos a Siciliano, que agora pertence à Saraiva, e a Livraria Cultura, com áreas de expansão na venda de livros. É interessante também notar que há tipos de lojas com livrarias dentro delas. Como vê o futuro do livro?

MOACYR SCLIAR – Nós provavelmente somos gente do livro, sem ele não podemos passar, é uma coisa que faz parte de nosso modo de vida. Érico Veríssimo tem uma historinha sobre pessoas que não podem passar sem livro. É do sujeito que mais entendia de vinho no mundo, sabia tudo. Um dia lhe perguntaram qual era seu vinho preferido e ele respondeu: "Eu não bebo". Foi uma surpresa, como isso era possível? Perguntaram-lhe então de onde tinha tirado aquele conhecimento enciclopédico. Ele disse: "Durante a ditadura, fiquei preso e a maior tortura era não ter nada para ler. O carcereiro ficou com pena de mim e me deu um livro, um manual de vinhos, que li e reli tantas vezes que acabei memorizando-o de cabo a rabo". Sentimos uma necessidade física do livro, precisamos dele, mas temos de aceitar que isso não é mais uma regra geral. A tela veio para ficar. É uma surpresa, porque alguns anos atrás se dizia que a tela derrotaria o livro, mas falávamos daquela do televisor, com imagens. Agora temos uma tela com texto, é diferente. Isso é um espaço literário.

PFROMM NETTO – Já existe Shakespeare em livro eletrônico.

MOACYR SCLIAR – Sim. E a Amazon Books acaba de lançar um sistema pelo qual baixamos livros via internet. A obra é lançada e pode ser baixada instantaneamente. Frequentemente me pedem que resenhe livros, e o pessoal do jornal ou da revista me manda o texto por e-mail, para ganhar tempo. Tenho de ler o livro na tela, é um suplício. Entre outras coisas, por que não se pode anotar nada. Como fazer para sublinhar uma frase, para escrever na margem? E, além disso, é um exercício cansativo. E não dá para levar para o banheiro. Mas temos de admitir que o computador e a internet vão se transformar num espaço literário, o blog está aí para ficar e alguns tipos de livros já eram, como as enciclopédias. Tenho uma em casa que não uso mais, queria doá-la para algum colégio, telefonei para uns 20, ninguém queria, nem para vender como papel usado. Estamos então diante de um fato novo e será um erro muito grande dizer que o jovem não quer mais saber de livro, só de internet e computador. Isso só vai acentuar esse abismo intergeracional.

MOACYR VAZ GUIMARÃES – Queria dizer apenas que o jovem não lê, tem outras atrações, inclusive navegar pela internet, e não estamos fazendo nada para que volte a ler. Hoje não há leitura na faixa de estudantes do ensino médio e mesmo no superior, a não ser algo muito restrito, especializado. Lembro-me de um verso que é uma proclamação admirável, pela síntese e profundidade, do poeta que dizia: "Oh! Bendito o que semeia livros... livros a mancheia... e manda o povo pensar! O livro caindo n’alma é germe – que faz a palma. É chuva – que faz o mar".

   MOACYR SCLIAR – Esse verso todos conhecemos, aprendemos no colégio. Mas quero dizer uma coisa. A ideia de que os jovens não leem pode ser equivocada. Dou um exemplo: tenho um filho, que agora é um homem, que não lia, para desgosto de seu pai. Não lia mesmo, inclusive os trabalhos de colégio eu tinha de fazer junto com ele e às vezes para ele, não me envergonho de confessar. Como eu queria que ele lesse, dediquei a ele um dos livros que escrevi. Quando a obra chegou da editora, eu lhe disse: "Olha, este livro está dedicado para ti, queria que pelo menos este você lesse". Ele olhou aquele objeto ameaçador e disse: "Tu não podia me resumir isso aí?" Pois esse menino que não lia se tornou um leitor adulto voraz. É fotógrafo e é capaz de ler um livro de mil páginas sobre fotografia ou a biografia de um grande fotógrafo. Ele lê o que lhe interessa. O pai dele não interessava para ele, nem com o nome dele na dedicatória do livro, e eu tinha de aceitar esse fato.

   MARISA AMATO – Realmente a literatura é um elo em muitas situações, não só na medicina. Hoje a distância está ficando muito grande entre as pessoas e consigo mesmas. Quando se fala em abismo entre médico e paciente, com certeza a literatura pode oferecer uma grande contribuição, porque é uma maneira de dar mais cultura aos profissionais, mas existem outros aspectos. A superespecialização é um deles, que aumenta a distância entre médico e paciente. Mais: graças à internet, o paciente procura o médico já com um diagnóstico pronto. É um conhecimento absolutamente superficial e às vezes com informações erradas, porque a internet tem de tudo, coisas muito boas e também muito lixo. Um doente com dor nas costas, o que faz? Marca consulta com um especialista, onde acha que deve ir. Precisamos de médicos generalistas, com uma cultura diversificada, que os pacientes tenham como responsáveis pelo tratamento e que se encarreguem de encaminhá-los para os especialistas.
Nos Estados Unidos, os pacientes se queixam porque às vezes não conseguem falar com o médico, mas com uma enorme equipe multiprofissional, encarregada de dar todas as informações. Estamos vivendo isso aqui da mesma maneira. Se o médico está atendendo um paciente não se justifica que este fale com a psicóloga, a nutricionista, o fisioterapeuta a respeito de seu problema. O acesso ao médico deveria ser fundamental.

ISAAC JARDANOVSKI – Os pacientes chegam ao consultório já com diagnóstico pronto graças à internet, mas não é só isso, muitos já vêm com a solicitação de exames. Precisam do médico apenas para coonestar os pedidos no seguro-saúde.

MOACYR SCLIAR – Algumas coisas que estão acontecendo são irreversíveis. A especialização é inevitável. Com o conhecimento vastíssimo que hoje caracteriza a medicina, não há como uma pessoa saber tudo. Então os especialistas são inevitáveis. E a questão da assistência primária, o general practitioner dos americanos, também é importante. Mas nada impede que um especialista, que sabe tudo sobre determinada área, se interesse pela pessoa como pessoa. Entende de diabetes? Tudo bem. Mas entenda de pessoas também. Uma coisa não contraria a outra. É que existe também um componente de preguiça, comodismo: peço exames e prescrevo a receita. Outra pessoa que fale com o paciente.

MARISA AMATO – Mas há estudantes que durante a graduação já não se interessam por algumas matérias porque vão fazer determinada especialidade. É o absurdo do absurdo, mas é verdade.

MOACYR SCLIAR – A conclusão a que chegamos é esta: se há um lugar onde se pode transformar isso é no ensino. A Brown estava inteiramente certa ao pretender mudar o currículo médico para pelo menos tentar alargar o horizonte das pessoas.

ZEVI GHIVELDER – Pergunto se é possível fazer boa literatura sobre temas exclusivamente médicos. Isso porque o autor britânico Oliver Sacks, que escreve exclusivamente sobre temas médicos, é admirável. Há um indiano também, cujo nome esqueci, que usa esses temas, mas escreve um monte de bobagens.

MOACYR SCLIAR – Oliver Sacks faz ensaio, não ficção. Ele é neurologista, e sua área abre essa possibilidade, porque acontecem coisas surpreendentes com as pessoas, como a história do homem que confundiu sua mulher com um chapéu e queria colocá-la na cabeça, uma situação incomum. E ele não descreve isso para dizer que é uma coisa engraçada, mas como uma forma de pensar a condição humana. A doença revela certos aspectos curiosos de nossa personalidade, por isso ele é muito bom. O indiano a quem você se refere chama-se Deepak Chopra e escreve livros de autoajuda.

ZEVI – Insuportável.

MOACYR SCLIAR – Aí depende. Se o autor escreve uma obra de autoajuda realmente útil para as pessoas, dá conselhos, tudo bem. Se faz isso pensando no mercado, então é negócio, é diferente. A verdade é esta: temos muitos médicos escrevendo para o público em geral que estão fazendo algo excelente. Hoje informação médica é uma área de especialização, há gente que se dedica só a isso e faz um trabalho muito bom. Temos também autores que fazem ficção sobre a medicina, e muitos médicos que foram escritores. O exemplo mais fantástico é o de Anton Tchekhov, que era médico, escritor e doente, tuberculoso. Tinha, então, uma tríplice vivência da enfermidade.

IZABEL ALEXANDRE – Quero lembrar um médico também, meio esquecido, que é um dos melhores escritores de língua portuguesa, Lobo Antunes. Ele é psiquiatra, faz ficção e seus temas não são as doenças propriamente ditas. Como psiquiatra ele sabe construir muito bem os personagens e coloca um país inteiro no divã. Em O Esplendor de Portugal, por exemplo, analisa o colonialismo, a relação de Portugal com a Europa e com o Atlântico, tudo isso sem falar propriamente em doença, mas com um pano de fundo que é seu conhecimento de psiquiatria.

NEY FIGUEIREDO – Falou-se do aspecto negativo da internet, quero falar do positivo. Estamos vivendo uma revolução de tal ordem na informação que hoje é impossível, em minha área, por exemplo, saber tudo o que está acontecendo. Na medicina ocorre uma coisa interessante: todo dia há uma novidade, como sobre o ovo, que tinha colesterol e que não tem mais, o ômega 3, que era bom e não é mais. Houve um caso em minha família, com minha irmã de 80 anos, que teve um problema de saúde e estava sendo tratada como se tivesse sofrido um AVC [acidente vascular cerebral]. Meu filho, que mora na China, preocupado com a tia, me perguntou quais eram os sintomas e de lá, na internet, descobriu qual era a doença dela. Os sintomas eram muito parecidos com os de um AVC. Levei a informação ao médico, que pesquisou e tudo foi resolvido, ela ficou boa. Nesse momento a internet foi fundamental. E pessoas com uma boa bagagem intelectual conseguem deixar o médico numa saia justa. O senhor acha que isso tem procedência?

MOACYR SCLIAR – Penso que certamente o conhecimento médico já não é mais privilégio de quem faz medicina. É uma coisa curiosa, mas temos de aceitar que a medicina como profissão institucionalizada e codificada é algo recente na história da humanidade. Isso é do fim da Idade Média. Antes médico era alguém que se dizia médico. Não há uma fronteira nítida entre o conhecimento médico e o geral. No último "British Medical Journal", uma revista inglesa muito prestigiosa, há uma carta com uma história contada por um endoscopista de um cliente que lhe disse: "Olha, doutor, sou encanador e estou acostumado com isso que o senhor faz. Vou lhe dar um conselho: se o senhor rodar o tubo, ele vai penetrar melhor".

LUIZ GORNSTEIN – Gostaria de ouvir seu comentário, como escritor, sobre a reforma ortográfica.

MOACYR SCLIAR – Não sou filólogo. O acordo corresponde a uma necessidade real de unificar a grafia portuguesa. O espanhol escrito na Espanha, na Venezuela, em Cuba é o mesmo. O francês do Canadá e da França é o mesmo. O inglês é mais ou menos o mesmo na Inglaterra e nos Estados Unidos. Mas sabemos que o português de Portugal é completamente diferente do nosso. Lembro-me de que ao publicar meu primeiro livro em Portugal, o editor me disse: "Vamos publicar em brasileiro mesmo, para não dar muito trabalho". Não traduziram. Então esse acordo tem seus méritos, porque elimina algumas coisas, inclusive o trema, o que vai facilitar bastante. Na verdade, o português tem acentos demais, a começar pela crase. Ferreira Gullar sempre escreve na "Folha de S. Paulo" sobre isso. Ele diz: a crase não foi feita para humilhar ninguém. Ele está enganado, a crase foi feita exatamente para humilhar os que não sabem usá-la. Andando pelas estradas brasileiras vemos coisas assim: "Caxias do Sul à tantos quilômetros". Sempre tem crase, porque quem fez a tabuleta, na dúvida, concluiu que é melhor assim, porque gente fina usa crase. Realmente, temos uma grafia terrível, que não resulta de um acaso, mas exatamente disso de separar as pessoas que dominam a grafia daquelas que não a dominam e de mostrar quem é quem. Então esse mérito o acordo tem. Mas está sendo muito criticado, atacado e realmente não sei qual é a procedência dessas críticas.

EDUARDO SILVA – Há 25 anos, meu pai tinha uma doença grave e, nas consultas, grande parte do diálogo com o médico era sobre livros. Eram conversas prolongadas e ele sempre voltava melhor da consulta. Se eu tivesse percebido isso antes, teria levado outras pessoas para falar sobre literatura com ele, pois isso se revelou um remédio.

CECÍLIA PRADA – Em primeiro lugar, uma coisa que impressiona é que o jovem – e o adulto – de hoje não lê. Esse não ler tem duas conotações. Uma é simplesmente não pegar um livro para ler. A outra é que ele não sabe ler, mas não sabe mesmo. É um analfabeto que conhece apenas as letras do alfabeto. Se você der um texto para uma pessoa qualquer dessa jovem geração, ela não vai ler; ela não sabe para que existe aquela vírgula, para que o ponto. Isso é grave e estamos nos tornando um povo analfabeto. Então não concordo com dizer que eles não leem e temos de nos adaptar a eles. Ao contrário, temos de salvar o que ainda há a ser salvo, despertar a consciência do que estão perdendo, em primeiro lugar como habilitação para qualquer carreira. Quem não tem formação terá mais dificuldade em qualquer profissão. A segunda coisa é a situação do escritor. A preocupação da maioria dos escritores jovens é aprender a escrever para ganhar dinheiro. Ou então fazer o roteiro de uma novela da Globo, que é a ambição máxima. Eles não têm a noção de que sua missão deveria basear-se em algo que está faltando, a introspecção.

JÚLIO ABRAMCZYK – No mundo da medicina, chegamos a um diagnóstico através dos sintomas. Você falou em crise da literatura, crise da medicina, temos crise no Senado, crise no atendimento médico nos Estados Unidos e aqui, também, a crise das greves no atendimento médico etc. Pergunto-lhe: o que essas crises têm em comum? A que diagnóstico podemos chegar?

MOACYR SCLIAR – Crise indica basicamente um processo de transformação. Vou usar uma frase de Gramsci: é quando o velho ainda não morreu e o novo ainda não nasceu. Não há dúvida de que as transformações rápidas da medicina entraram em choque com as formas de assistência médica tradicionais e daí resulta toda essa confusão, esse mal-estar na cultura médica, para usar uma frase de Freud. Isso é inevitável. Mas não há nenhuma razão para ser catastrofista. Escrevo para o jornal "Zero Hora" e toda semana tenho de discutir com o pessoal, porque o que mais adoram é dizer que estamos à beira do abismo em termos de saúde. Não estamos. A expectativa de vida não para de crescer, a mortalidade infantil continua diminuindo, doenças foram erradicadas. Basta lembrar a varíola, uma doença que conseguimos erradicar. A situação está melhorando.

JÚLIO – Havia um problema com a varíola. O pessoal, quando entrava no estado de São Paulo, pagava o equivalente a R$ 20 para não ser vacinado.

MOACYR SCLIAR – Bem, essas coisas aconteciam. Conheci um secretário de Saúde que guardava atestados de vacinação preenchidos e os dava aos amigos, para que não passassem pelo incômodo de se vacinar. Era um secretário de Saúde. Tirando essas exceções, a verdade é que a população se vacinou contra a varíola. E o SUS [Sistema Único de Saúde] melhorou. Pessoas de classe média adoram falar mal do SUS. Quem trabalhou no SUS sabe que pode haver problemas com o sistema, mas sem ele seria uma catástrofe, as pessoas morreriam na rua.

ADIB JATENE – O escritor é um especialista em gente, por isso consegue escrever e ser apreciado pelas pessoas. O médico em primeiro lugar tem de ser um especialista em gente, isso é coisa fundamental, porque todo doente, independentemente de seu nível cultural e de sua situação econômica, diante da doença se transforma num ser frágil, aflito, angustiado, com medo. E o oposto do medo não é a coragem, é a fé. Ele precisa acreditar, então tem de encontrar um profissional que acredite que está interessado nele e não em sua doença. Acontece que com o desenvolvimento científico e tecnológico o mundo mudou, o que tem valor são as coisas que as pessoas têm, não são as pessoas. O carro, a casa, o patrimônio, a posição social, isso é o que a sociedade valoriza. Por isso é que a pessoa deixou de ter importância e o médico foi contaminado, porque virou técnico, está mais interessado na doença do que no doente, sendo que a definição de médico é o indivíduo que está interessado no doente e não na doença. Esse enfoque que você colocou, da humanização, é absolutamente fundamental e é aí que literatura e medicina se encontram.

MOACYR SCLIAR – Melhor que isso só mesmo ganhar o Prêmio Nobel. Muito obrigado, professor Jatene.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Guia da Reforma Ortográfica

 

O Complexo Educacional FMU e o Museu da Língua Portuguesa lançaram em março o Guia da Reforma Ortográfica. O material, que foi desenvolvido por renomados professores da FMU e recebe a chancela do Professor Ataliba de Castilho, especialista em língua portuguesa, está sendo distribuído gratuitamente aos alunos do Complexo, aos visitantes do Museu e a mais de 7 mil escolas públicas da rede estadual e municipal de São Paulo. Mas, se você ainda não ganhou um exemplar, não se preocupe. O Guia da Reforma Ortográfica também está disponível para download gratuito.Basta clicar aqui e salvar o arquivo em seu computador.

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3ª Jornada Nacional do Brincar e da Brinquedoteca

3ª Jornada Nacional do Brincar e da Brinquedoteca

 

02/10/2009

SESC Santo André

Informações: conferencias@santoandre.sescsp.org.br

tel.: (11)4469-1228

fax: (11) 4469-1229

 

    Esta jornada, realizada pela Universidade Metodista de São Paulo e SESC SP, enfoca o direito da criança de brincar em diversos contextos, como em ambientes de lazer, junto à família, na escola, na rua e no hospital. Reúne trabalhos de todo o Brasil, que abrangem pesquisas, relatos de experiências e oficinas e, desta forma, cria condições de intercâmbio, atualização, divulgação e discussão dos estudos. Destina-se a todos os interessados no brincar, entre profissionais das diversas áreas das Ciências Humanas, estudantes e pais.

Vale a pena conferir…

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Festival Internacional de Filmes sobre Pessoas com Deficiência.

O Banco do Brasil apresenta a quarta edição do Assim Vivemos - Festival Internacional de Filmes sobre Pessoas com Deficiência.

De 7 a 18 de outubro de 2009
Local: CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Álvares Penteado, 112 - Centro
tel.: 11-3313.3651

Com a exibição de filmes realizados, dirigidos ou com atuação de pessoas com deficiIencia e a realização de debates sobre o tema, o Centro Cultural Banco do Brasil contribui para o despertar de uma nova consciência e cidadania, e reafirma seu compromisso de promover o acesso à cultura e à arte para todos.

Pela primeira vez em São Paulo e totalmente gratuito, o Festival que é realizado com frequência bienal em Brasília e no Rio de Janeiro desde 2003, conta com a seleção de 24 filmes de 13 países, além de debates com profissionais ligados à inclusão de pessoas com deficiência.

Primeiro evento no Brasil a oferecer o recurso da audiodescrição de filmes para pessoas com deficiIencia visual, o Assim Vivemos concretiza o conceito de acessibilidade em eventos culturais quando conjugado à arquitetura completamente adaptada do CCBB, ao oferecimento de interpretação simultânea para Libras - Língua Brasileira de Sinais - e às legendas Closed Caption.


Confira a programação em http://www.assimvivemos.com.br/



Flávia Fló
Divulgação institucional
11-8132.1098

http://www.assimvivemos.com.br/

Lavoro Produções
http://www.lavoroproducoes.com.br/

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Pais impacientes, filhos imediatistas - Rosely Sayão

PARA REFLETIR: QUE ADULTO QUERO FORMAR?
Não há uma vez que se comente sobre a educação de crianças e de adolescentes de nossa época que não seja lembrada a característica de comportamento deles de buscar satisfação imediata para suas vontades e anseios. Pois bem, é hora de tentar entender mais esse assunto. E nada melhor do que olhar também para a atitude dos educadores pais e professores antes de sair creditando aos filhos e alunos determinadas características.
De início, é bom lembrar que ninguém nasce sabendo esperar: as necessidades de um bebê, por exemplo, são imperativas. Ele sente o desconforto da fome? Ele chora, ele berra, não importa a hora e o local e muito menos ainda se a mãe está disponível ou não para alimentá-lo. Mas, pouco a pouco, a mãe vai dando um jeito de colocar uma rotina na vida do bebê, e ele vai se acostumando.
A criança vai crescendo e as vontades vão crescendo também junto com ela. E, sempre que ela precisa esperar para ser atendida ou quando ela não pode ser atendida, é um sofrimento só! A criança chora, faz birra e beicinho, dá até beijinho. Mas pode também gritar, espernear, morder, bater ou se jogar no chão. E assim começa a ladainha dos pais: “Não faça isso”, “não reaja assim”, “não peça isso”, “não suba aí”, “não pegue isso etc.”.
E como a criança responde? Fazendo o que acabou de ouvir que não deve, pegando o que não pode, indo aonde é perigoso, pedindo o que já sabe que não pode ter. Pura teimosia? Atração pelo proibido? Exigência de satisfação imediata?
Talvez um pouco de tudo isso, mas a criança insiste principalmente porque quer algo e porque, para aprender a conter suas vontades e impulsos, demora um pouco mais do que os pais gostariam.
E como reagem os pais com a repetição dos filhos? Com a mesma exigência da criança: a de que suas orientações sejam atendidas de imediato. Qual a mãe ou o pai que já não se pegou dizendo ao filho, de qualquer idade: “Quantas vezes eu já não disse que você não deve fazer tal coisa?”. Ou: “Esta é a última vez que vou dizer a mesma coisa para você?”, por exemplo? Pois, às vezes, a criança responde à altura. Quando interpelado pela mãe dessa maneira, um garoto saiu-se com uma bela resposta: “Você vai ter que me dizer isso 150 vezes!”.
Mesmo sem saber, o garoto estava dando uma bela lição para a mãe. Estava dizendo que educação é um processo que exige persistência, insistência e, principalmente, paciência. Para ensinar um filho ou um aluno a se auto regular, é preciso bater na mesma tecla diariamente, se preciso for.
Então, agora já podemos voltar ao começo de nossa conversa: o tal imediatismo dos filhos e dos alunos permanece e até cresce conforme diminui a paciência de pais e professores e também segue o anseio desses adultos por respostas imediatas a seus atos educativos.
Por isso é bom fazer uma distinção: informar e/ou comunicar não tem o mesmo significado que educar. Fazer uma comunicação e esperar ser atendido é algo que se pode esperar de adultos, não de crianças ou adolescentes. Afinal, conter um impulso imperativo exige maturidade.
Precisamos parar com essa história de dizer que nossos jovens não têm limites, que nossas crianças são imediatistas, que não sabem respeitar os pais, a escola etc. Afinal, quem educa (ou não) essas crianças e esses adolescentes? Eles não vêm ao mundo com todos os pré-requisitos necessários à vida em grupo. Essas características são fruto da educação.



Rosely Sayão

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O que você vai fazer?

Um jornal da região publicou durante a semana uma matéria sobre o comportamento de um professor e de vários alunos numa escola de São Bernardo do Campo.

Como o ECA proporciona uma boa mídia passaram a semana falando sobre o assunto e questionando o professor.

Não quero aqui defender nem professor, nem aluno.

Gostaria que a população começasse a observar o que realmente desencadeou essas atitudes. O “problema” é muito maior do que os olhos podem ver. Buscar o culpado não resolverá o problema…

Está na hora de pensarmos em ações possíveis para darmos continuidade a uma educação pública de qualidade. Frases como “ no meu tempo…, “quando eu estava na escola…”, “na minha época…”, não ajudam em nada. O tempo e a época são os que vivemos hoje.

O que você vai fazer?

Para saber mais…

terça-feira, 15 de setembro de 2009

domingo, 13 de setembro de 2009

INCOMODADOS – PARTE II

É colegas…

     As vezes me vejo em “conflito”, por viver tantos “conflitos”  na educação. No fundo acredito que “conflitos” são bons pois possibilitam reflexões, incertezas, novos caminhos…. mas dá trabalho.

 

   Para minha surpresa retomei a leitura de Madalena Freire e por ironia do destino (embora eu acredite que nada é por acaso), olhem só:

Estar vivo é estar permanentemente em conflito, produzindo dúvidas, certezas sempre questionáveis.

Estar vivo é assumir a educação do sonho no cotidiano.

Para permanecer vivo, educando a paixão, os desejos de vida e de morte, é preciso educar o medo e a coragem.

Medo e coragem em ousar.

Medo e coragem em assumir a solidão de ser diferente.

Medo e coragem em construir o novo.

Medo e coragem em assumir a educação desse drama, cujos personagens são nossos desejos de vida e morte.

Educar a paixão (de morte e de vida) é lidar com esses dois ingredientes cotidianamente através da nossa capacidade, força vital ( que todo ser humano possui, uns mais, outros menos, em alguns ANESTESIADA) de DESEJAR, SONHAR, IMAGINAR E CRIAR.”

 

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

MAE –USP – Museu de Arqueologia e Etnologia

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ATIVIDADES EDUCATIVAS

O MAE, por meio do Serviço Técnico de Musealização da Divisão de Difusão Cultural, oferece diversos programas gratuitos de atendimento junto aos seus diferentes públicos.

As atividades voltadas para o público escolar são oferecidas gratuitamente para professores do ensino médio, fundamental, e superior, de escolas públicas e/ou privadas.
O objetivo destas atividades é demonstrar que o Museu tem possibilidade de atuar como laboratório pedagógico experimentando e propondo formas alternativas de ensino e aprendizagem. Além disso, pretende apresentar e vivenciar ações educativas referentes à relação entre Museu e Escola, assim como possibilitar aos professores participantes o conhecimento dos materiais pedagógicos elaborados pelos educadores do MAE/USP, colocando-os à disposição para o seu uso em sala de aula.

ORIENTAÇÃO PARA PROFESSORES

Orientação para os professores conhecerem e utilizarem a exposição “Formas de Humanidade” junto com seus alunos:

Oferecida mensalmente, este treinamento tem como objetivo, a apresentação e a discussão da exposição "Formas de Humanidade", dos seus conceitos unificadores e dos roteiros de visitas monitoradas. O professor que participa do treinamento tem condições de selecionar o roteiro de visita mais apropriado para seus alunos, preparando-os para dar continuidade à mesma na sala de aula.

O treinamento é condição prévia para o agendamento das visitas monitoradas dos alunos destes mesmos professores. O limite máximo de participantes são 15 professores em cada treinamento.

Nele são oferecidos os seguintes materiais:

· Apostila de textos básicos sobre os principais conceitos utilizados em nossa exposição e material bibliográfico atualizado a respeito da mesma;

· Apostila referente aos conteúdos dos setores da exposição.

O professor pode, se quiser, xerocar o material do treinamento.

Para os interessados também, o MAE vende, em sua loja, o Guia Temático Para Professores, que contém ilustrações e atividades a respeito dos setores “Origens e Expansão das Sociedades Indígenas” e “África: Culturas e Sociedades”.

Após a participação o professor poderá visitar o MAE com duas classes, uma de cada vez, e seus alunos receberão monitorias em um dos Setores da Exposição “Formas de Humanidade”, o qual é escolhido previamente por ele.

Orientação para os professores conhecerem e utilizarem “kit” pedagógico de objetos arqueológicos e etnográficos:

Este material pedagógico consta de objetos arqueológicos e etnográficos, painéis sobre a produção de alguns destes objetos e textos teóricos contextualizando os objetos.

Oferecida mensalmente. Após a participação nesta atividade o professor poderá levar emprestado para suas escolas este material didático, por quinze dias. Posteriormente, o professor que o utilizar é convidado a apresentar o trabalho que realizou com seus alunos para seus pares, em data previamente marcada.

Orientação para professores conhecerem e utilizarem a Valise Pedagógica “Origens do Homem”:

Este material pedagógico trata do tema do trabalho do arqueólogo (inclusive com demonstrações a respeito de uma escavação arqueológica) e do processo de hominização ocorrido na Pré-História. Por meio de gavetas com propostas lúdicas, contém também réplicas de crânios e ferramentas dos antigos homens pré-históricos. Esta atividade é oferecida semestralmente. Após a participação, os professores levam emprestado para as suas escolas este material didático, por quinze dias.

VISITAS À EXPOSIÇÃO “FORMAS DE HUMANIDADE”

Visitas monitoradas

Estas visitas são realizadas a um dos Setores da Exposição, escolhido previamente pelo professor, para uma classe cada vez e só poderão ser agendadas após a participação do professor na Orientação para Professores.

Horário das visitas: das 10h00 às 12h00 e das 15h00 às 17h00

Visitas livres

Estas visitas poderão ser agendadas mesmo que o professor não tenha participado da Orientação. O número máximo para este tipo de visita é de 90 alunos.

Horário das visitas: das 08h30 às 10h00 e das 13h30 às 15h00

SALA PARA PROFESSORES PAULO FREIRE

É um espaço que visa integrar o trabalho que o professor realiza com os seus alunos e as possibilidades de construção de conhecimento a partir da ação educativa em museus.

O professor terá acesso aos seguintes itens:

1. Bibliografia sobre:

Museu e Educação

Museologia

Patrimônio Cultural

Educação Patrimonial

Temas da Exposição de “Formas de Humanidade”

Atividades Educativas em diferentes museus do Brasil e do mundo

2. Apoio pedagógico: professores recebem assessoria dos educadores do STM para a preparação de visitas ao MAE

3. Palestras, Mesas Redondas, Oficinas e Cursos

MATERIAL DIDÁTICO PARA PROFESSORES

Guias temáticos para professores

São seis volumes sendo cinco relacionados aos Setores/Módulos da Exposição “Formas de Humanidade” (Origens e Expansão das Sociedades Indígenas; Manifestações Sócio Culturais Indígenas; África: Culturas e Sociedades e Mediterrâneo I: Grécia e Roma, Mediterrâneo II e Médio Oriente: Egito e Mesopotâmia e um relacionado à Exposição Temporária Brasil 50 mil anos: uma viagem ao passado Pré-Colonial (exposição realizada em Brasília entre setembro/01 e março/02).

. Este material é composto por:

-texto teórico sobre o tema do Setor/Módulo

-sugestões de atividades educativas para professores e alunos realizarem antes, durante e depois da visita à Exposição e

-pranchas com fotos de alguns dos objetos da exposição.

Valise Pedagógica “Origens do Homem

Contém material para se trabalhar questões relacionadas ao perfil do Trabalho do Arqueólogo e sobre o Processo de Hominização (para empréstimo, após o professor receber orientação detalhada).

Kit” de objetos arqueológicos e etnográficos

Este material didático pode ser emprestado para professores após receberem orientação detalhada. Ele contém:

Objetos arqueológicos e etnográficos

Painéis sobre a produção de objetos contidos no “kit”

Textos que contextualizam os objetos acima

Texto contemporâneo ao uso de um dos objetos

Sugestão de atividades pedagógicas

“Kit” de objetos infantis indígenas

Ele poderá ser emprestado após a orientação detalhada de uso. Ele contém:

Objetos/brinquedos infantis

Painéis fotográficos sobre contato entre culturas e sobre socialização das crianças indígenas de algumas aldeia

Vídeo sobre as crianças da Aldeia Krukutu (Parelheiros, SP)

Texto para a contextualização dos objetos do “kit”

Sugestões de atividades educativas

PÚBLICO NÃO ESCOLAR

TERCEIRA IDADE

O trabalho educativo com o público da Terceira idade vem sendo realizado desde 1996. O Projeto Patrimônio Cultural e Memória: a Terceira Idade no MAE/USP, é aplicado primeiramente na sede do grupo com o qual se trabalha e posteriormente se realiza uma visita orientada ao MAE a qual é acompanhada por uma oficina de desenho ou argila.

São oferecidas também, mensalmente, Visitas Orientadas para um grupo especialíssimo, atividade oferecida pelo MAE dentro do Projeto da “Universidade aberta para a Terceira Idade” da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP. Esta atividade tem como objetivo principal instigar os visitantes a conhecerem diferentes culturas em diferentes tempos e lugares a partir da Exposição “Formas de Humanidade”. Após a visita à exposição é realizada uma oficina com propostas diversas.

As inscrições podem ser feitas individualmente; grupos de amigos ou grupos institucionais.

As visitas serão realizadas com o mínimo de 05 e o máximo de 20 pessoas.

FÉRIAS NO MAE

Nos meses de janeiro e julho é oferecida, para crianças e jovens, uma programação diversificada que envolve, além de oficinas, atividades educativas e lúdicas na Exposição “Formas de Humanidade”.

Grupos: mínimo de 05 e máximo de 20 pessoas; as inscrições podem ser feitas por telefone.

COMUNIDADE SÃO REMO

Ação educativa realizada junto à Escola de Educação Infantil da Comunidade São Remo, visa aproximar uma clientela que está distante do universo museológico. Esta atividade é realizada na própria comunidade e também na Exposição “Formas de Humanidade”, constando de visitas e oficinas.

Todas estas atividades devem ser agendadas previamente pelo telefone:

3091-4905, com Cida.

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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Para refletir…

“O essencial é invisível aos olhos, disse a raposa ao Pequeno Príncipe.”

 

 

Mesmo que a raposa estivesse se referindo a nossos sentimentos, essa frase descreve, liricamente, o quanto o mundo a nossa volta permanece invisível a nossos olhos, inacessível a nossos sentimentos…

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Estágio

GM recebe inscrições para estágio

 

A General Motors (GM), fábrica de automóveis, recebe inscrições para estágio até 15 de setembro. A conclusão do curso de graduação dos candidatos deve ser entre dezembro de 2010 e dezembro de 2011.

Há vagas para as áreas de vendas, marketing, pós-vendas, recursos humanos, finanças, jurídica, relações públicas, compras, "supply chain", qualidade, manufatura, engenharia, tecnologia da informação, design, planejamento, exportação e gerenciamento de programas.
Mais informações no endereço: http://www.elancers.net/frames/gm/frame_geral.asp

FILOSOFIA…

 

Uma sugestão bem bacana para

trabalhar o sentido da

vida

Objetivos

1) Discutir o sentido da vida e introduzir alguns conceitos heideggerianos como angústia, morte, ser próprio e ser impróprio;

2) Trabalhar as habilidades cognitivas de interpretação e formação de conceitos.

Atividades

1) O sentido da vida é um tema que cativa à atenção dos adolescentes por eles próprios estarem na busca de referências que os ajudem em seu processo indenitário. Para facilitar a introdução do tema, sugerimos o trabalho com imagens ou músicas. Por exemplo, pode-se distribuir a letra de músicas aos alunos para que encontrem nelas o sentido que o autor atribui à existência.

A música Tocando em Frente,de Almir Sater e Renato Teixeira, pode servir de tema para discutir o sentido da vida e esta análise pode ser confrontada com o sentido (ou falta de sentido) contido na música Cotidiano de Chico Buarque.

Outra alternativa é escolher a definição de vida com a qual os alunos mais se identificam na música O que é, o que é? , de Gonzaguinha. Todas as letras podem ser obtidas no site Vagalume).

Em seguida, os alunos devem confrontar suas impressões pessoais com a dos colegas. O professor pode registrar as diferentes definições no quadro. Caso a discussão seja muito produtiva, o professor pode prolongá-la através de um plano de discussão com questões dirigidas à classe, tais como: a) Você acha que existe algum propósito na vida?

b) Viver faz realmente algum sentido?

c) O sentido de nossa vida é diferente do de outros seres vivos? Por quê?

d) Você acha que todas as pessoas se preocupam com o sentido de suas vidas? Você se preocupa?

e) Você acha que existiriam boas razões para se buscar um sentido para vida? Quais?

2) Depois das etapas de motivação e discussão com os alunos, pode-se passar para a leitura do texto Filosofia da Existência, do Educação. Peça aos alunos para grifarem quais os conceitos mais importantes que aparecem no texto. Feito isso, deverão procurar no próprio texto definições para os conceitos. Esse trabalho pode ser feito em duplas e empregado para verificar a habilidade de formação de conceitos. A seguir, a sugestão é perguntar aos alunos como interpretaram o texto. Nesse momento, o professor pode retomar algumas ideias para ajudá-los na compreensão dos aspectos principais.

3) Como fechamento, pode-se confrontar as idéias do texto com as definições que foram registradas no quadro. O professor deve questionar sobre o que o texto os fez pensar ou se eles mudaram a opinião que tinham sobre o sentido da vida antes e depois da discussão do tema em classe.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cotidianos em contraste

VOCÊ CONCORDA COM A REPORTAGEM PUBLICADA NA REVISTA EDUCAÇÃO?

 

04/08/2009 - Cotidianos em contraste
A reportagem de Educação acompanhou três professores paulistas, das redes pública e privada, para fazer um pequeno retrato de seu dia a dia


Mural de avisos de uma escola paulistana: preocupação com novas regras de contratação

 

Na Nova York dos anos 60, um professor já convencido de que seus alunos não passam perto do protótipo idealizado de estudantes que poderiam desafiá-lo a superar os limites de seu conhecimento para proporcionar-lhes novos horizontes de vida, adere ao mais radical pragmatismo para despertar-lhes, ao menos, algum interesse pela leitura e pela escrita . Ainda que troquem os cânones literários pela narração dos próprios feitos ou pelas virtudes da culinária.

Assim como o personagem literário descrito, resultante da experiência docente do hoje escritor Frank McCourt (Ei, Professor, Cinzas de Ângela), um exército de professores - 1,8 milhão na Educação Básica de todo o Brasil, sendo 238 mil apenas na rede estadual paulista - luta cotidianamente para construir suas estratégias de ensino (ou de guerra?) no mundo real. Longe tanto das idealizações que lhes reserva a missão de transformar todos os problemas do país, como do senso comum corrente, que os desqualifica, os docentes buscam, na lida diária com realidades diversas, a identidade possível.

Discutido nos mais variados espaços, como universidades, órgãos do governo, terceiro setor e a imprensa, o professor é geralmente lembrado quando se questiona a má formação à qual é submetido ou quando o tema é a polêmica avaliação docente. Em todos os casos, o professor do qual se fala faz parte de uma categoria - o sujeito por trás dele é pouco conhecido. Com o intuito de retratar exatamente o cotidiano que escapa dos debates sobre a docência, a reportagem de Educação acompanhou o dia a dia de três professores que lecionam na cidade de São Paulo.

Eduardo ensina física no Colégio Brasília, escola particular da zona leste de São Paulo. Carlos é professor temporário em duas escolas estaduais na zona oeste da capital paulista. Sandra Virgínia é professora efetiva de português nas redes municipal e estadual, ambas no Itaim Paulista, zona leste, divisa entre São Paulo e Ferraz de Vasconcelos. O critério de seleção dos entrevistados, além de passar pelo universo público e privado, atende à diversidade de bairros paulistana. A proposta original era retratar mais um professor, que lecionasse na região central, mas, segundo a Secretaria de Estado da Educação, as escolas contatadas não se dispuseram a participar.

O que se lerá a seguir não é - nem pretende ser - a verdade absoluta a que a totalidade dos professores da cidade está sujeita. É, apenas, um recorte escolhido para se enxergar alguns fragmentos das condições do professor, realidade múltipla, complexa e pouco afeita a reducionismos. Além disso, está fatalmente alterada pela presença de um observador estranho à rotina do professor e da sala de aula, fator que, por si só, altera comportamentos e interfere no cotidiano observado.


O andarilho

No bairro da Pompeia, o professor Carlos Alberto Guimarães aguarda o ônibus que o levará à escola

 

Entre o momento em que deixa o prédio de dois andares onde mora, na rua Apinagés, na Pompeia, e a hora em que retorna ao local, o professor Carlos Alberto Pires Guimarães, 25 anos, caminha bastante. Não só de sua casa até o ponto de ônibus, na rua Heitor Penteado, mas também entre uma e outra escola estadual onde leciona. Carlos costuma sair de casa por volta de 8h30. Às 18h20, quando termina a última aula de biologia na última escola, inicia o trajeto de volta, também a pé. No total, caminha 7,2 km por dia. Não é à toa que as solas de seus sapatos pretos estão desgastadas. Anda porque, às vezes, o dinheiro não dá. Mas anda, sobretudo, porque gosta. Seu dia começa entre um café feito em coador de pano e um cesto de roupas jogado na máquina de lavar. Natural de Assis, interior de São Paulo, saiu da casa dos pais com 18 anos. Estudou biologia em Bandeirantes, interior do Paraná.

Sua primeira experiência como educador foi numa sala de aula rural. "Na área de biologia, é a melhor coisa. Aproveitava o meio ambiente do entorno para fazer experiências. E o respeito com os alunos de lá era dado, não precisava ser imposto", conta. Carlos compara o ensino paulista a uma "selva de pedra". "O respeito aqui tem de ser conquistado pelo conhecimento", resume.

Em seu quarto no apartamento - divide o imóvel com dois primos -, além de livros de biologia dos mais variados, encontram-se títulos como "Capitalismo, trabalho e educação", de José Claudinei Lombardi, Dermeval Saviani e José Luís Sanfelice. A predileção pelo cantor Raul Seixas é estampada num adesivo colado num minisystem, o famoso três-em-um. E, pregado sobre sua escrivaninha, um apanhador de sonhos - "um filtro de sonhos", como ele diz. Quando veio para São Paulo, o sonho de Carlos era emendar um mestrado na área de política ambiental. "Quando vi a realidade da educação aqui, resolvi dar aula", conta. Uma das maiores reclamações do professor é que a autonomia nas escolas é inexistente, o que o obriga a seguir uma cartilha.

Nas duas escolas visitadas pela reportagem, os outros docentes têm reclamações semelhantes. Um professor de educação física, Ricardo (nome fictício), amigo de Carlos, contesta, por exemplo, a proposta de colocar o ensino de boxe nas escolas estaduais. "Como vou ensinar boxe para esses jovens? Eles vão sair da escola e socar o colega no ponto de ônibus!". Ricardo também relata a história de uma colega que leciona em Cotia. "Ela entrou em sala e o aluno perguntou se ela ia dar aula. Com a resposta afirmativa, ele disse: 'não tô a fim de ter aula.' No que ela virou para começar, levou um soco do aluno, que reafirmou: 'não tô a fim de ter aula, já disse'", relembra.

Na escola em que trabalha, Ricardo diz não sentir tanto os efeitos da violência. Os alunos que estudam lá, diz, fazem-no por opção: a maioria mora em regiões violentas e vai até outro bairro para estudar. "O diferencial aqui é a equipe de professores, o nosso comprometimento." Carlos, professor eventual da escola, concorda. No dia em que a reportagem o acompanhou, ele se deslocou até a escola para substituir uma professora, mas ela não faltou. Assim, depois de esperar o fim do horário das aulas, começou a caminhada até a outra escola, onde atua como Ocupante de Função Atividade de biologia (OFA, denominação da Secretaria de Estado da Educação para o temporário que tem aulas atribuídas). Seu holerite de março, época em que trabalhava na EE Romeu de Moraes, aponta os seguintes valores: como PEB2 (professor do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio), ele recebeu, por oito aulas dadas, R$ 60,62 - o que significa que sua hora-aula vale R$ 7,57.

 

Os percalços
Na sala dos professores da segunda escola, Carlos exerce seu lado 'político' com os colegas. Inconformado com as novas regras para os professores eventuais, ele copiou notícias de jornal e levou aos outros docentes. Em clima de discussão, eles se mostram inconformados. Uma professora de história diz: "A única coisa que eu faço para o Estado hoje é dar uma boa aula. Cansei de tudo". Carlos é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) há um ano e meio. Também transita no sindicato da categoria (Apeoesp) e na Central Única dos Trabalhadores (CUT). Buscou espaços políticos para discutir as questões que mais o preocupam: educação, meio ambiente e saúde.

Quando vai à sala de aula, tenta levar algumas questões correlatas para os alunos, como as que giram em torno de política ambiental. Mas ele mesmo reconhece que é difícil. Somente dar aula é algo extremamente trabalhoso na segunda escola em que leciona. Invariavelmente, precisa levantar a voz, pedir silêncio, avisar que o barulho está atrapalhando. Naquele dia, Carlos aplicou uma prova sobre ecologia. "Não sou professor de avaliação, na verdade. É mais um instrumento de acompanhamento, que não uso como punição. Prefiro que eles façam exercícios tirando dúvidas", explica.

Em aula, houve vários episódios de desrespeito dos alunos com o professor. Concorrendo com o barulho dos carros e das buzinas que circulam pela região da Lapa e com as vozes dos alunos, o professor precisa elevar cada vez mais a voz. Em uma das salas, uma aluna o aborda, dizendo que não trouxe o livro de biologia, material de consulta para a prova. Ele diz que avisou dois dias antes e ela retruca: "Eu faltei". Ao ouvir a resposta de Carlos ("procure falar com seus colegas sobre o que foi dado quando você faltar"), ela grita: "Não tenho livro e não vou fazer prova nenhuma".

Ao sentar em sua cadeira, coloca um fone de ouvido e só vai olhar para a prova quase no final da aula. A falta de respeito acontece entre os próprios alunos. Numa das salas, Carlos se deparou com uma briga entre dois meninos logo ao entrar. Tentou impor respeito, mas foi obrigado a berrar - algo inusual em sua conduta, segundo o próprio. Tranquilo, é adepto da conversa, do diálogo. Um de seus passatempos preferidos, além da leitura, é passar horas ao telefone com o filho de seis anos, Caio, que mora no Paraná. "Nós ligamos a televisão no mesmo desenho e damos risada juntos", conta.

Sua angústia particular: não conseguir fazer mais pelo mundo. "Fico triste, fico feliz, é um ciclo. O que posso fazer é dar aula. É a minha contribuição", diz. Lembrando do filme Apenas o fim, de Matheus Souza, que trata justamente das angústias da geração dos nascidos a partir dos anos 80, ele lembra de outro ícone: a banda Los Hermanos. "Me sinto como naquela música, De onde vem a calma: de onde vem a calma daquele cara, ele não sabe ser melhor, viu? Ele não sabe não, viu? Às vezes dá como um frio, é o mundo que anda hostil. O mundo todo é hostil".

7h Depois de tomar café e colocar a roupa na máquina, Carlos assume outra tarefa diária: lavar a louça

7h30 Em seu quarto, separa os recortes de jornais que levaria às escolas onde leciona

8h Na rua Heitor Penteado, no bairro da Pompeia, aguarda o ônibus Lapa (7281)

13h30 Dia de prova: o professor aguarda a devolução dos exercícios sobre ecologia

15h30 Enquanto faz a chamada, o docente é obrigado a pedir silêncio inúmeras vezes

19h A última caminhada do dia: 4,2 km entre a escola e o prédio onde mora, na rua Apinagés, na Pompeia, bairro de classe média da capital paulista

A comunicadora

Na Emef Newton Reis, a professora Maria Vera acompanha a leitura das redações


Sandra Virgínia, professora de português na Emef Newton Reis e na EE Profª Maria Vera Lombardi Siqueira, ambas no bairro de Itaim Paulista, gosta de cores fortes. Basta ver a fachada laranja de sua casa, a parede verde de sua sala ou o avental vermelho que ela usa para dar aula. Também é católica, ou uma bíblia não estaria aberta na mesa de centro da sala, ao lado de um portaretrato com a foto da filha e da neta, que moram hoje nos EUA. Sandra é mãe de mais dois adolescentes: Pedro, de 17 anos, e Fernanda, de 12. Os três estudaram em escolas onde a mãe ensina. "A escola particular tem os mesmos problemas que a pública: droga e indisciplina", garante.

Casada há 18 anos com um membro da Guarda Civil Metropolitana, Sandra acha que, de alguma maneira, o ambiente privado transforma os alunos em robôs. Na escola pública, eles ficam mais à vontade - o que, para ela, não é sinônimo de falta de aprendizagem. A professora tem uma relação diferente com a escola pública. Leciona desde 2001 na EE Profª Maria Vera, que acompanha desde a fundação. "Trabalhava como secretária. Me formei e voltei como professora", conta. Sandra queria estudar jornalismo - a verborragia e a curiosidade justificariam a opção -, mas acabou optando pelo curso de Letras. "O curso de jornalismo mais perto era em Mogi das Cruzes, muito longe. Sempre morei em Itaim e em Guaianazes", diz.

Essa proximidade trouxe consequências boas e ruins. Sandra sempre encontra ex-alunos no supermercado ou em lojas do bairro, por exemplo. Por outro lado, durante o período em que trabalhou numa escola municipal lecionando inglês para 7ªs e 8ªs séries, sentiu na pele a violência dentro da escola. Um de seus alunos, irmão de um jovem que vivia sob liberdade assistida, resolveu não fazer uma prova, amassar o papel e jogá-lo no lixo.

Sandra tem pulso firme em sala de aula. Pensa que o professor deve pensar bastante antes de tomar uma decisão. Uma vez que tomou, não pode recuar - caso contrário, perde o respeito e o controle. Decidiu colocar o aluno para fora de sua aula, o que, para ela, significa acompanhá-lo até a direção e convocar os pais para discutir a indisciplina. O aluno em questão a xingou e foi para cima dela e do inspetor. Quando foi retirado da sala, dirigiu-se até a cantina, onde foi comer um pudim. Inconformada, exigiu que fosse levado à direção. "Eu sei onde você mora. Sei o caminho que você faz", disse o aluno. A escola, relutante em fazer um boletim de ocorrência por medo, acabou aceitando.

"A pergunta era: como eu sobrevivo aqui depois disso? Como a polícia ficou mais presente, ligaram para a escola dizendo que nada ia acontecer comigo e que não precisava de polícia por perto", relata. Uma das coisas de que sentiu falta na época foi de uma direção mais ativa no apoio ao professor. "O aluno não é só meu, é da escola também. Você não o leva para casa", diz. Outra distorção que ela identificou que ainda persiste atualmente é a relação da escola com a família.
"Muitas vezes, você chama o pai e diz: 'não sei mais o que fazer com o seu filho'. E a resposta dele é: 'pior é que eu também não, já fiz de tudo. O que eu faço?' Quem chamou quem? Se bobear, você age como psicóloga", questiona.

O relato atual
Hoje, Sandra não tem mais problemas com violência nas duas escolas em que leciona. A reportagem não pôde entrar no EE Maria Vera, já que não obteve autorização da Secretaria de Estado da Educação. Após o contato feito por telefone, a diretora da escola, Vanilza, mostrou-se disposta a participar da reportagem, com a condição de que a secretaria autorizasse (veja boxe na página 35). Com a negativa, o cotidiano da escola foi obtido a partir do relato da própria docente. Ali, onde ela leciona todos os dias pela manhã e pela noite, as salas são divididas por disciplinas. Há a de português, por exemplo, e o aluno se desloca até ela.

A maioria dos docentes trabalha há tempo considerável na escola. "Tenho carinho pelas pessoas e pela escola", afirma. A direção - não só Vanilza, mas Berenice, a antiga diretora que se aposentou recentemente - acompanha os alunos, conta Sandra. "Na época da Berenice, percebemos que os alunos de 5ª série tinham dificuldades em anotar todas as matérias, porque estavam acostumados com um professor só. Virou norma que, para cada disciplina, um caderno deve ser usado", conta. Reflexo disso ou não, os índices no Saresp da EE Maria Vera são altos: enquanto a média estadual para a 8ª série do ensino fundamental e o 3º ano do ensino médio em matemática são, respectivamente, 245,7 e 273,8, a escola tem 264,8 e 272,8.

Na Emef Newton Reis, onde trabalha das 11h às 15h, ela leciona para as 5ªs séries. No dia 2 de julho, quase fim de semestre escolar, a professora pedia aos alunos a leitura de uma redação elaborada na aula anterior, com base numa ilustração. O tema era preconceito. Logo ao entrar em sala, muitos alunos corintianos brincavam com Sandra, são-paulina roxa, por conta da vitória do Corinthians na Copa do Brasil.

Mas, ao entrar em sala de aula e pedir silêncio pela primeira vez, ela foi obedecida prontamente. "Não sou professora boazinha. Pego no pé. A princípio não vão muito com a minha cara, mas no começo não dá pra chegar sorridente. Mesmo porque eles não gostam de muito oba-oba", afirma, tentando estabelecer um perfil de si mesma. Numa outra aula, já na sala de leitura, onde outra professora mostrava quadros expressionistas, os estudantes, eufóricos, querem falar ao mesmo tempo. Ela berra: "Se todos falarem ninguém escuta". E o silêncio toma conta da sala.

Depois das cinco aulas, Sandra vai a pé para sua casa. É a hora que ela tem para tirar um cochilo e cuidar da casa. A comida que ela faz para o jantar fica também para o almoço do dia seguinte - o cardápio era arroz, feijão e bife. Ela quase não vê a filha, Fernanda. Quando sai de casa, às 7h, ela ainda está dormindo. À noite, Sandra retorna à EE Maria Vera, e dá aulas até às 23h20 em alguns dias e até às 9h20 em outros. Sandra não deseja que seus filhos sejam professores, a não ser que seja por vocação. Para ela, o salário é baixo demais. Em média, com oito anos na rede estadual e 15 anos na municipal, ela tira R$ 1,5 mil no primeiro caso e R$ 2,5 mil no segundo.

Com uma rotina tão atribulada, prefere ficar em casa nos fins de semana, quando não visita a sogra ou a mãe. Vê filmes para relaxar e, quando lê, o objetivo é outro. "A leitura é sempre voltada para o vestibular e para o Enem. Ler por prazer é muito difícil", diz. Com uma pós-graduação lato sensu finalizada em gestão escolar, diz não pensar em assumir cargo de direção porque não quer perder o contato com os alunos, pois gosta dessa proximidade. Para ela, mesmo os alunos bons devem ser acompanhados, já que podem cair em estagnação. Um dos alunos da prefeitura tem necessidades especiais e não consegue escrever. Naquele dia, ele prometeu pensar numa história sobre preconceito para o dia seguinte. "Quem sabe ele não me conta uma história amanhã? Se me contar, já me dou por satisfeita. É coisa de professor."

8h Com pantufas nos pés, Sandra recebe a reportagem de Educação em sua casa

9h Um gole de café antes de sair para trabalhar

9h30 O muro da Emef Newton Reis: distância entre a casa de Sandra e a escola é de 1 km

11h30 Numa 5ª série, ela faz a chamada: respeito entre alunos e professora

15h30 Antes do cochilo, Sandra aproveita para acompanhar as notícias do dia pela TV

18h30 Na entrada da EE Maria Vera, com a filha, Fernanda: jornada até as 23h

No Colégio Brasília, Zona Leste de SP, Eduardo explica aos alunos a diferença entre massa e peso

 

O driblador

No Colégio Brasília, os alunos mantêm um nível de respeito pelo professor. Tanto que Eduardo raramente põe estudantes para fora de sua aula. Naquele dia, entretanto, um deles, do 9º ano, passou dos limites e teve de sair. "Ele já estava ameaçando a semana inteira que ia aprontar", explica. Para o professor, são um ou dois alunos que desestabilizam a sala - o todo não é assim. Enquanto ensina eletricidade com o auxílio de um sistema de pilhas, consegue atrair diversos adolescentes à sua volta, que ficam curiosos. Querem ligar uma, duas, três pilhas na lâmpada ao mesmo tempo.

Em outra sala, de ensino médio, ele fala sobre massa e peso. Mais uma vez, os alunos se sentem instigados a perguntar. "Ele tenta se igualar àquilo que o aluno é. Ele não se acha", comenta Rafael, aluno do 3º ano, que vai prestar vestibular para o bacharelado em esportes, na USP. Na escola, o vestibular parece ser o grande objetivo a ser alcançado. Antigamente, um hábito provinciano tomava conta do lugar: todos os alunos iam direto para a Universidade São Judas, do lado da Vila Formosa. No ano passado, quatro alunos, de um total de cem, entraram na USP.

Além de o material didático ser apostilado, a escola investe em outras maneiras de garantir o sucesso acadêmico. Eduardo conta que é proibido ir sem uniforme, chegar atrasado e não entregar tarefas. Caso o aluno não siga essas regras, recebe um ponto negativo e a anotação vai parar no boleto bancário que chega à casa dos pais. "Assim, quando a mãe chega à reunião e diz que o filho está fazendo as tarefas e nós mostramos que não, ela percebe que está sendo enganada", explica.

Mesmo com todas essas investidas, ainda é possível encontrar, no turno da manhã, alunos com dificuldades em contas básicas de matemática. À tarde, diz Eduardo, é pior. A maioria dos alunos é bolsista e proveniente de escolas públicas municipais e estaduais. São estudantes que não teriam como arcar com os quase mil reais de custo, entre mensalidade, transporte e alimentação. "Para você dar a mesma matéria pra eles é doído. A base é muito fraca, não sabem fazer nem o mínimo múltiplo comum", aponta.

Por esse motivo, e por já ter lecionado na rede estadual, ele não colocaria os filhos em escola pública. E não deseja a carreira de professor para eles também. "Lidar com o filho dos outros é complicado. A responsabilidade de casa está sendo transmitida para o professor e tem horas que você tem de falar coisas que não agradam", justifica. Por Eduardo, eles seriam médicos - "é uma profissão bonita, o profissional que sai com a maior qualificação geral". Ele mesmo não queria ser professor.

Seu sonho era ser engenheiro elétrico, mas passou em faculdades integrais e precisava trabalhar para ajudar em casa. Tentou processamento de dados, não gostou e acabou estudando matemática. Depois de um período como professor eventual ("tapa buracos mesmo") numa escola estadual, assumiu aulas de química. "Tive problemas com professores. Como nenhum aluno aparecia às sextas para ter aula, os docentes também não iam. Decidi ensinar matemática financeira e todos iam assistir às aulas. Os professores ficaram bravos", conta. Hoje, a hora-aula de Eduardo vale mais de R$ 30 na escola particular. Ele não sente vontade de voltar a lecionar na rede pública. Outro motivo seriam as facilidades dadas aos alunos. "Não se reprova mais e isso não acontecia antes. Você trabalha com grandes quantidades de alunos e eles vão sendo empurrados para a frente, sem aprender", desabafa.

Descendente de italianos e torcedor do Palmeiras, Eduardo mora em Santo André, mas tem hábitos tipicamente paulistanos. Aos fins de semana, vai ao shopping. Adora ir ao cinema. Os últimos filmes que viu foram Anjos e demônios e Exterminador do futuro 4 - gostou apenas do primeiro. Não abre mão de jogar futebol aos sábados, muitas vezes em companhia dos próprios alunos do ensino médio. Adora o lanche de pernil do bar do prédio do Diário de S. Paulo, no centro de São Paulo.
Quando leva o filho para a natação, no final da tarde, Eduardo também gosta de levar um livro (A Cabana, de William P. Young, e Casais inteligentes enriquecem juntos, de Gustavo Cerbasi, foram os últimos que leu), para esperar Bruno sair da aula. Sua vontade inicial pode não ter sido a de dar aula, mas no final das contas, acabou se saindo bem e hoje é feliz como professor. Espectador voraz de televisão, assiste aos canais Discovery Channel e o History Channel, da TV a cabo, para ter respostas rápidas aos seus alunos. "Por mais que pareça a mesma coisa, quando você muda de sala, são 40 alunos diferentes. Você nunca sabe o que vai acontecer", diz.

De todas as partes de sua casa, localizada em Santo André, o professor Eduardo gosta mais da área reservada ao churrasco. Esse é o local onde ele reúne os amigos nos fins de semana em que não corrige provas de física dos alunos dos ensinos fundamental e médio do Colégio Brasília de São Paulo, na Vila Formosa, zona leste de São Paulo. Todos os dias, Eduardo deixa a esposa e a filha pequena às 6h30 e sai com o filho, Bruno, de 5 anos, rumo à escola. O trajeto, feito de carro, dura menos de vinte minutos. Às 7h, já está na sala dos professores: depois de vestir um avental branco e pegar sua caixa de giz - com seu nome marcado em madeira queimada - dirige-se à sala de aula. "O palco da sala de aula" é o que mais gosta da docência. "Não gosto da parte burocrática, corrigir provas e preparar aulas", confessa.

6h15 Em companhia do filho, o professor deixa sua casa, em Santo André (SP)

7h Em seu armário, na sala dos professores, apanha a caixa de giz e os diários

9h Corrigindo exercícios do vestibular: silêncio e interesse dos alunos

16h Após aplicação de prova de recuperação, ele guarda o avental e deixa a escola

 

O estranho silêncio oficial

Ignorar as demandas de alguns veículos de comunicação, notadamente os menores e que trabalham de forma crítica. Parece ser essa a postura deliberadamente adotada pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Ao menos é o que a experiência relativa aos colaboradores da revista Educação permite depreender. Para esta matéria, foi enviado, por solicitação da assessora Maria Teresa Pinheiro Moraes, um pedido de autorização de entrada na EE Maria Vera Lombardi Siqueira. Além disso, a reportagem solicitou a indicação de outra escola na região central que se dispusesse a participar. Três dias depois de inúmeras tentativas de contato telefônico, o e-mail não havia sido respondido. Quem deu a notícia que a entrada tinha sido autorizada foram a professora Sandra e a diretora Vanilza, que comunicaram para a reportagem. No dia seguinte, entretanto, ligaram dizendo que a assessoria de imprensa havia desautorizado. Até então, nenhuma posição da secretaria havia sido passada à reportagem, o que só aconteceu quase uma semana depois de o pedido ter sido enviado, e por telefone. Uma resposta oficial, por escrito, nunca foi recebida.

O caso não é o primeiro. O repórter Henrique Ostronoff tentou fazer a mesma matéria entre o final de 2008 e o início de 2009. Tentou inúmeras vezes, sem sucesso, a autorização para entrar nas escolas e conversar com os professores. Falou com as assessoras Jéssica, Maria Teresa e Flávia - nenhuma delas deu uma resposta (ainda que negativa). O tratamento se repetiu com o dossiê desta edição, que trata da avaliação docente. Em contato com Flávia, que prometeu uma entrevista com o secretário Paulo Renato Souza, Henrique foi vencido pelo cansaço. Enviou perguntas por e-mail, esperou, cobrou e não obteve resposta. O secretário, muito ocupado, não poderia falar e quem domina o assunto em todo o órgão é apenas ele, disse a assessoria de imprensa. Em outra matéria, sobre educação e tecnologia, falou com a assessora Manoela sobre programas de informatização na rede pública estadual e não obteve nenhuma resposta, apenas releases.

O mesmo quadro aconteceu com o repórter Diego Braga Norte, quando apurava uma matéria sobre a obrigatoriedade do ensino de espanhol nas escolas públicas a partir de 2010. Após contato telefônico com a assessora Marina, no qual perguntou a posição da secretaria em relação ao oferecimento obrigatório da disciplina a partir do próximo ano, recebeu uma resposta genérica por e-mail, que não entrava no mérito dos questionamentos, ou seja, se havia alguma estratégia para formar professores do idioma para que todas as escolas pudessem passar a oferecê-lo. Insistiu, mas não houve ninguém com conhecimento técnico específico designado para atendê-lo. Até o fechamento desta edição, a secretaria não comentou o assunto. Os contatos foram feitos, via e-mail e telefone, entre os dias 8 e 16 de julho.


- Endereço web:

http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.asp?codigo=12749

- Publicada em:

4/8/2009 12:07:00

- Impresso em:

3/9/2009 11:03:28

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